felipetusco
Em homenagem aos discos que completam a marca de 30 anos em 2024, traremos uma vez por mês algumas reviews de álbuns muito marcantes para a música de três décadas atrás.
PARTE TÉCNICA:
Após o rompimento do grupo Pixies – por sinal muito importante nos anos 1990 – Black Francis, agora sob o nome de Francis Black, trouxe suas influências e descarregou neste disco, sendo o segundo em sua carreira solo. Teenage Of The Year foi lançado em maio de 1994 pelo selo da gravadora Elektra.
Dos músicos que contribuem com seus talentos estão Eric Drew Feldman (baixo, teclado, e sintetizadores), que trabalhou com outros grupos importantes, como Captain Beefheart e Pere Ubu, Nick Vincent (bateria), e Lyle Workman (guitarra principal). Além destes, temos Joey Santiago e Moris Tepper com suas guitarras também, mas apenas nas faixas Sir Rockaby, Fiddle Riddle, The Hostess With The Mostest, Big Red, e as três últimas do álbum.
Muito se confabula, digamos assim, sobre o significado da arte da capa do disco, e trazendo uma interpretação conjunta de todas estas ideias, crê-se que o propósito está em ridicularizar a visão que os adolescentes têm sobre padrões de beleza e tudo aquilo que eles almejam. No final das contas, um homem mal vestido e de aparência impopular também pode ser a rainha do baile.
CANÇÕES DO DISCO:
Whatever Happened To Pong? é uma introdução singela, com sons misturados por uma gaita e baterias fritadas. Seguindo como terceira faixa está (I Want To Live On An) Abstract Plain que traz uma essência country pelo seu ritmo, mas evidentemente com uma sonoridade marcada por eletricidade.
Calistan e Speedy Marie são em termos de ritmo e melodia mais calmas, mas, por outro lado, carregam uma letra pesadamente nostálgica, se é que podemos usar esta palavra. Seus textos falam de tempos diferentes dos atuais e como a transformação das coisas impacta nosso intérprete. Calistan, por sua vez, traz as localidades de Juan Wayne e Nuevo Spain como assunto.
Headache soa como um momento de descarrego por trazer uma pessoa amargurada com a realidade ao seu redor e que está longe de atingir aquilo que chamam de paz interior. Versos como ‘’I thought about my space and it really got me down, got me so down, I got me a headache’’ e ‘’My heart is crammed in my cranium and it still knows how to pound’’ (”Eu pensei sobre meu espaço e me deixou pra lado, me lado pra baixo, isso me deu uma dor de cabeça / Meu coração está apertado em meu crânio, mas ainda sabe como bater“) são evidências desse sofrimento pessoal.
Freedom Rock soa livre por seus vocais secundários, mas mais estratégica em suas viradas de bateria e timbragem de guitarra em sua duração.
Fazer Eyes, que não tem nada a ver com o verbo em português, fala de uma situação onde Black sente-se preso por um olhar envolvente e não sabe como sair da situação. Detalhe para a boa mistura de guitarra e sintetizadores no final da canção.
The Hostess With The Mostest é uma das faixas mais curtas e ainda assim é bem divertida de ouvir, devido a sua quebra de tom repentina ao longo dela, enquanto que Pure Denizen Of The Citizens Band, Bad, Wicked World e Pie In The Sky’’ são uma das melhores trincas de encerramento de um disco – lembrando que elas são exclusivas das participações de Santiago e Tepper.
REPERCUSSÃO DO DISCO:
Em termos de repercussão, Teenage Of The Year é tido como um disco criativo e deliciosamente complexo por sua mistura de ideais e instrumentos marcados. Há críticos que, entretanto, comparam essas características com aquelas trazidas pelo artista no seu tempo no grupo Pixies, alegando que faltam elementos pixianos aqui. De qualquer forma, eu particularmente vejo esta comparação como algo sem cabimento, já que traços sonoros de rock no tema deste texto não nos permitiriam conhecer um lado mais sentimentalmente profundo de Frank Black. Por essas e outras, Teenage Of The Year é um marco para a música nos anos 1990 e que em todo seu aniversário deve ser relembrado.
