roanirock
Mediante a tudo que ocorreu nos shows realizados pela ícone pop Taylor Swift no Rio de Janeiro, resolvemos trazer algumas das grandes tragédias que ocorreram em shows, no nosso caso, de rock no mundo. Deixando claro assim que o “buraco é mais embaixo” apesar de muitos dos motivos das tragédias serem um pouco similares ao ocorrido com a cantora americana. Até porque, na maior parte das vezes, a responsabilidade maior veio por conta da empresa que patrocinou o espetáculo ou o governo do local. Tudo vai ficar mais claro a seguir na seleta lista com 10 desses casos.
Rolling Stones, Altamont, 1969
Um show, que na verdade foi praticamente um festival com as maiores bandas dos anos 60 da música psicodélica feita na época, querendo criar assim um Woodstock 2.0 ou o “Woodstock do oeste” como quiseram classificar. O concerto apresentou (por ordem de apresentação)ː Santana, Jefferson Airplane, The Flying Burrito Brothers e Crosby, Stills, Nash & Young e por fim os Rolling Stones. Entretanto tornou-se no prenúncio do fim daquele ar hippie de paz e amor quando os Hells Angels, uma verdadeira gangue de motoqueiros, foram contratados para fazer a segurança do evento e usaram de truculência desde o início dos shows gerando brigas e até uma morte durante o show dos Stones.
O Greatful Dead também estava entre as bandas, eles na verdade foram até os organizadores primários e impulsionadores do evento, mas sequer chegaram a tocar, abandonando tudo por conta da violência que na hora de se apresentarem já estava chegando no descontrole. Os Hells Angels violentaram alguns dos roadies da banda e essa foi a gota d’água. O evento foi classificado pela revista Rolling Stone como “o pior dia da história do rock. 6 de dezembro, um dia em que tudo aconteceu perfeitamente errado”.
The Who, Cincinatti, 1979
Onze pessoas morreram e oito ficaram gravemente feridas no Riverfront Coliseum na noite de segunda-feira do dia 3 dezembro de 1979 em uma debandada humana pelas portas da arena antes do início do show do grupo de rock The Who. O escritório do legista do condado de Hamilton disse que os mortos incluíam sete homens e quatro mulheres. Um porta-voz do legista disse que as idades das vítimas variavam de 18 a 20 anos.
Os fãs ouviram a passagem de som e forçaram as entradas para entrar no estádio, eles acreditavam que o show tinha começado e durou tudo uns 3 minutos. Tudo foi contornado, o restante das pessoas conseguiram entrar e viram o show observando casacos, vidros quebrados, resto de roupas abandonadas no local depois da limpa. A banda só soube do ocorrido após o fim da apresentação o que fez Roger Daltrey querer cancelar o restante da tour, mas o guitarrista Pete Townshend resolveu convencer o vocalista dizendo que “se não tocarmos amanhã, nunca mais tocaremos”. Mesmo sendo complacente ao amigo no sentimento de coração partido e tristeza profunda de se ver na situação em que a banda se encontrava.
Guns N’ Roses e Metallica, Stadium Tour, Montreal, 1992
O evento mais famoso da turnê ocorreu durante um show em 8 de agosto de 1992 no Olympic Stadium de Montreal. O frontman do Metallica, James Hetfield, sofreu queimaduras de segundo e terceiro grau no braço esquerdo depois de pisar muito perto de uma explosão de pirotecnia durante a abertura de “Fade to Black“. A banda foi forçada a cancelar a segunda hora do show, mas prometeu voltar à cidade para mais um show.
Após um longo atraso, durante o qual o público se tornou cada vez mais inquieto, o Guns N’ Roses subiu ao palco. No entanto, o tempo reduzido entre as séries não permitiu ajuste adequado dos monitores de palco, resultando em músicos não serem capazes de se ouvirem. Slash sofreu uma overdose durante o show. Além disso, o vocalista Axl Rose, alegou que machucou a garganta, fazendo com que a banda saísse com menos de uma hora de apresentação. O cancelamento levou a um motim de membros da audiência, não só arremessaram cadeiras e tudo que encontrassem no palco, mas ao saírem pras ruas viraram carros, quebrando janelas, saqueando lojas locais ateando fogo em alguns lugares. Aqui não teve mortes, mas a destruição foi fora do comum.
Raimundos, São Paulo, 1997
Este caso acontecido no Brasil foi um dos mais podres em termos ação pública. Cerca de 5 mil jovens ocuparam o espaço do Clube de Regatas Santista, que não tinha autorização da prefeitura local para realizar espetáculos. Tudo começou na parte da tarde, quando dentre as cinco escadarias de acesso do local, apenas uma estava liberada. O excesso de peso das pessoas que nela estavam fez com que a estrutura desmoronasse, deixando 63 pessoas feridas, sete jovens mortos por asfixia e um por traumatismo craniano.
O ginásio do clube tinha cobertura e era elevado. No vão central estava a quadra de esportes, onde foi montado o palco. A arquibancada de concreto rodeava a estrutura, cujo acesso poderia ocorrer por meio de cinco escadas patamar único. O local comportava 2.606 pessoas, mas recebeu 5.974 durante o show, segundo dados oficiais.
O público, que adquiriu os ingressos por R$ 30, chegou ainda no início da noite do dia 7 para garantir o melhor lugar. A apresentação da banda aconteceu na madrugada e, na última música, após as 3h, as pessoas começaram a sair pela escadaria “um”, única liberada pelos 30 seguranças e que, mais tarde, seria considerada incapaz de garantir a fluidez. Testemunhas relataram que o amontoado de pessoas que caíram atingiu quase dois metros de altura. As vítimas fatais e com maior gravidade estavam embaixo, conforme relata o jornalista e escritor Sérgio Vieira, de 40 anos, autor do livro “Raimundos – o show que nunca terminou“, única obra sobre o ocorrido, tido como “esquecido” na história da cidade.
Woodstock 99
O maior exemplo de como não fazer um festival de música ao mesmo tempo que desmascarou, trazendo a tona a face mais repugnante das empresas e produtores da indústria. Entretanto, também é aquele que trouxe mudanças circunstanciais ao universo dos festivais em termos de viabilizar maior qualidade para o público com condições sanitárias e de segurança, foi um ponto de partida que apesar de não ter custado vidas trouxe dor e sofrimento para muitas famílias.
As altas temperaturas, as longas filas para obter água cara e o mau planejamento geral permitiram que a destruição e violência se espalhassem de forma desenfreada na edição Woodstock ’99, realizada de 23 a 25 de julho de 1999. No final, o evento reteve muito pouco da paz e do amor de espírito livre, vibrações do festival original de 1969. O Limp Bizkit resolveu ser de certa forma o influenciador do caos ao ter seu vocalista instigando a destruição das paredes erguidas para evitar invasores, só que eles não contavam que atiçar o fogo faria os irracionais cometerem vários estupros amplamente relatados. Na noite seguinte, uma fogueira foi acesa durante o encerramento do Red Hot Chili Peppers fechando de maneira correta o que foi o pior festival da história.
Pearl Jam, Roskilde Festival, Dinamarca, 2000
O pior pesadelo de toda banda se tornou realidade para o Pearl Jam em 30 de junho de 2000. O grupo estava tocando para uma multidão encharcada de chuva no Orange Stage do Roskilde Festival, na Dinamarca, parte de uma programação que incluía Lou Reed , Iron Maiden e Oasis – e atraiu mais de 100.000 portadores de ingressos para um dos maiores e mais longos shows do norte da Europa. Cada show vem com seu próprio grau de caos, mas neste show, o entusiasmo do público saiu do controle, levando a uma multidão que matou nove pessoas e feriu 26.
O Pearl Jam, sempre preocupado com a segurança, interrompeu o show assim que soube dos acontecimentos, mas já era tarde demais. A banda manteve contato com as famílias das vítimas, referenciando os perdidos na letra de ‘Love Boat Captain’: “Nove amigos que nunca conheceremos… há dois anos hoje”.
Os organizadores e autoridades atribuíram a tragédia a uma confluência de fatores, incluindo terrenos lamacentos que tornaram mais difícil para o público permanecer de pé, mas os membros da banda foram sinceros em sua crença de que vidas poderiam ter sido salvas se o festival tivesse acontecido. procedimentos mais seguros em vigor – ou se a segurança tivesse agido mais rapidamente para informar o grupo que as coisas estavam se desenrolando no terreno.
Great White em Rhode Island, 2003
Em 20 de Fevereiro de 2003 a banda Great White fez um show em West Warwick, RI. Mas por conta de uma negligência sem precedentes, foram colocados elementos pirotécnicos de uso exterior, dentro do clube, as paredes eram revestidas de material para isolamento acústico altamente inflamável, a tragédia era garantida. Trinta segundos após o início do fogo tomou todo o palco. criando assim um dos incêndios mais destruidores em clubes noturnos da história.
A maioria dos 460 ocupantes fugiram pelo estreito corredor que dava acesso à entrada frontal, mas 100 pessoas morreram incluindo o guitarrista da banda Ty Longley. 230 pessoas sofreram inalação de fumaça, queimaduras e outros ferimentos. O empresário da turnê e da banda, Daniel Biechelem, foi sentenciado a 10 anos por homicídio culposo (quando não há intensão de matar), e ganhou liberdade condicional em 2008.A propriedade do clube enfrentou acusações criminais adicionais, e a banda, especialmente o vocalista Jack Russell, foram profundamente afetados pelos terríveis acontecimentos daquela noite.
Damageplan, Columbus, 2004
Um show do Damageplan ficou marcado por uma tragédia no dia 8 de dezembro de 2004. A apresentação, que aconteceu em Columbus, Ohio (EUA), foi alvo de ataque do atirador Nathan Gale, Um fã com histórico de doença mental que subiu no palco e atirou várias vezes na cabeça do ex-guitarrista do Pantera, Dimebag Darrell.
Nos shows de trash metal, as subidas ao palco para arremessar o corpo contra a plateia são comuns, sendo pouco impedido por seguranças para se aproximar dos músicos. Usando desse advento, Nathan Gale, inconformado pelo fim do Pantera e motivado pelas afirmações do vocalista Phil Anselmo de que o guitarrista teria sido o causador de sua saída da banda, subiu no palco do clube Alrosa Villa, em Ohio, e matou o guitarrista com um tiro. Ele ainda matou o chefe da segurança, Jeff Thompson, o funcionário da casa noturna Erin Halk, e um fã identificado como Nathan Bray, além de disparar contra outros dois funcionários da banda, que sobreviveram.
De acordo com testemunhas, Nathan invadiu o palco aos gritos, afirmando que Dimebag “acabou com o Pantera” e “arruinou sua vida”. Com o tumulto e saída em massa da plateia, o oficial de polícia James Niggemeyer conseguiu acertar os disparos contra o atirador antes de sua fuga, com este falecendo no palco ao lado do idealizador dos principais riffs de sua banda favorita.
Callejeros, República Cromañón, 2004
Callejeros, uma banda de rock argentina, estava programada para se apresentar no República Cromañón, em Buenos Aires, em 30 de dezembro de 2004. No entanto, uma tragédia atingiu o evento. Um fogo pirotécnico acendeu as decorações no interior do edifício, provocando um incêndio feroz. 194 pessoas morreram no incêndio, que deixou ainda mais de 700 feridas. Algumas saídas de emergência estavam fechadas com correntes naquela noite.
Esta tragédia também causou importantes mudanças políticas e culturais. Os familiares dos jovens falecidos e dos sobreviventes do incêndio formaram um grande grupo de mobilização pública e de exigência de justiça pelas mortes e danos sofridos. Politicamente, o Legislativo da Cidade de Buenos Aires iniciou um julgamento político para destituir o então chefe de Governo Aníbal Ibarra , considerando-o politicamente responsável pela tragédia. A acusação terminou com a sua destituição, sendo substituído pelo vice-chefe do Governo, Jorge Telerman . No plano cultural, a tragédia conscientizou a sociedade sobre o estado das casas noturnas e dos locais utilizados para apresentações musicais, além de provocar fortes reconsiderações sobre práticas comuns e futebolísticas, como o uso de sinalizadores e a busca por reunir o máximo público possível.
Eagles of Death Metal, Bataclan, 2015
O mundo ficou chocado em novembro de 2015, quando o Estado Islâmico assumiu a responsabilidade por uma série de ataques terroristas em Paris. Um destes ataques ocorreu no teatro Bataclan, onde acontecia um show dos Eagles of Death Metal. O resultado da tragédia foi um total de 129 mortos, enquanto mais de 350 pessoas ficaram feridas. Um verdadeiro massacre que rendeu um olhar importante para a segurança em shows. Parece que já faz muito tempo, mas só se passaram 8 anos e guerras seguem acontecendo de forma bem mais intensa e a possibilidade de um novo atentado em qualquer casa de show do mundo não é nula.
Esse provavelmente é o caso mais forte e assustador dentre todos da história e será difícil ver algo que chegue perto. Há um relato emocionante da banda e de Josh Holme (líder do Queens Of Stone Age que foi co-fundador do Eagles Of Death Metal) de 26 minutos muito impactante para a Vice com a banda contando o que viu, lendo relatos dos sobreviventes e o pós tragédia com a banda seguindo tocando mesmo sem muitas condições psicológicas para finalizarem a turnê.