Lucas Santos
“O LP agiu como uma deserção deliberada do período Rise Radiant – uma aceitação de que ele, e tudo o que havia prometido à nossa carreira no final de 2019/2020, havia acabado e que precisaríamos seguir em frente artisticamente”. … [É sobre] o fascínio sombrio e a estranha beleza da quietude, do silêncio e da perda.”
Sam Valle
Confira mais reviews de Metal em 2023:Polaris – FatalismSoen – MemorialBury Tomorrow – The Seventh SunDrain – Living ProofMetallica – 72 Seasons
Gravadora: InsideOutMusicData de lançamento: 26/01/2024
Gênero: Metal ProgressivoPaís: Austrália
Minha paixão pelo Caligula’s Horse começou na mais profunda fase depressiva de 2020. O lançamento do álbum Rise Radiant poucos dias após o lockdown mundial me ajudou profundamente a absorver tudo o que aconteceu e acontecia naquela ano. Não só o álbum foi uma porta de entrada para uma emersiva audição e conhecimento da banda que tinha acabo de lançar o quinto álbum de estúdio, mas também para conhecer algumas outras bandas do mesmo cenário de metal progressivo australiano. Mas isso é papo para outro texto.
Vale ressaltar também que enquanto eu me deliciava com uma nova descoberta, 2020 foi um ano que quase acabou com a banda (acredito que essa foi uma realidade para várias), que tinha acabado de organizar a primeira turnê nos Estados Unidos naquele mesmo ano.
Avançando 4 anos no tempo, temos finalmente, um sucessor de Rise Radiant (2020). Agora como um quarteto – Adrian Goleby guitarrista rítimico não faz mais parte da banda – Charcoal Grace nos agracia como o sexto álbum de estúdio da banda de Brisbane. Ele é consideravelmente mais longo, mas sem dúvida mais eficiente e suavemente estruturado, garantindo que cada momento seja poderoso e que cada música se conecte com aqueles ao seu redor com fluidez e propósito. Se isso significa que Charcoal Grace é a obra-prima da banda até agora, obviamente depende do ouvinte, mas, pelo menos, não deixa dúvidas que a banda ainda está no ápice de sua criatividade musical.
“O LP agiu como uma deserção deliberada do período Rise Radiant – uma aceitação de que ele, e tudo o que havia prometido à nossa carreira no final de 2019/2020, havia acabado e que precisaríamos seguir em frente artisticamente”. … [É sobre] o fascínio sombrio e a estranha beleza da quietude, do silêncio e da perda.”
Guitarrista e principal compositor Sam VallenA abertura The World Breathes With Me, por exemplo, é uma reflexão existencial de múltiplas partes cheia de atmosferas comoventes, ganchos diretos, execução sofisticadamente dinâmica e lirismo mediativo. Captura tudo que torna o Caligula’s Horse tão único e distante de tantas bandas no meio do metal progressivo, e ao mesmo tempo que atua como uma reação contemplativa às atuais disputas sociais e políticas. Naturalmente, inspirações igualmente íntimas e arranjos erráticos também fluem em algumas outras faixas excelentes, a mais pesada Golem, e as igualmente tocantes Sails, The Stormchaser e Mute).
Dito isso, é a faixa-título, dividida em quatro partes, de proximadamente 24 minutos que mais impressiona devido à sua narrativa, variedade e coesão. Um relato ficcional da relação instável entre uma criança e seus pais, Sam esclarece que “explora ciclos de abuso” juntamente com as “responsabilidades” da humanidade e “a necessidade e validade do perdão”. Ele abrange uma gama de abordagens e temperamentos (incluindo paisagens sonoras arrepiantes, pausas acústicas, instrumentação turbulenta e, claro, cantos frágeis e furiosos). Cumulativamente, está entre as composições mais gratificantes, ambiciosas e significativas na carreira musical do grupo e dentro do metal progressivo.
Charcoal Grace é uma adição notável ao já esplêndido catálogo da banda, pois vê os australianos se recuperando de múltiplas dificuldades com excelente criatividade e resistência. Quase tudo que os fãs poderiam desejar está aqui e, além disso, é uma ótima maneira de dar início à programação do metal progressivo de 2024. Quer você seja um seguidor antigo ou um novato, certamente achará Charcoal Grace uma jornada profundamente impressionante e atenciosa de um dos melhores atos do metal moderno.
Para completar, a banda está atualmente pela primeira vez em turnê nos Estados Unidos, e eu tive a oportunidade de assistir o show deles em Boston. Banda imperdível, álbum imperdível e show imperdível.
Nota final: 10/10
