roanirock
Dia 13/04 foi bem movimentado no Rio de Janeiro, uma série de shows ocorreram na cidade, o que antagonizou o querer estar presente em todos – há uma questão de mobilidade e de conflitos de horário que convergem com a vontade.
Convidado pela R33sistência produções, tive o destino certo para a noite de sábado. A segunda edição do Fogo na Zona Sul, realizada na Vizinha 123 em Botafogo, prometeu e trouxe uma edição toda dedicada ao metal. Lá, quem esteve presente, vivencionou uma temática ala carioca e descontraída com comes e bebes (biscoito Globo e mate com limão), uma verdadeira “farofada”, como bem disse o guitarrista e vocalista da Lowd, Raphael Matheus, que estava vestido de regata e bermuda de praia. Ele também é um dos produtores e idealizadores do evento.
Foram 4 bandas selecionadas a dedo para gerar a energia certa ao espetáculo. Bem como na primeira edição, a dobradinha Gadelha Superdrive e a Lowd ocorreu de forma orgânica. O início dos trabalhos, com um pouco do seu primeiro disco Escarlate e algumas novidades que em breve chegarão nos streamings, foram importantes para colocar os superdrives no jogo. Seu repertório varia de músicas em inglês e português, flertando com o hard rock e o heavy Metal, sendo uma das principais influências do baixista e cantor a banda Thin Lizzy, o que evidencia a presença forte do baixo.
Eles tocaram uma música, Esperança, da Radioativa, banda que já falamos por aqui, que o baixista já fez parte e que infelizmente está atualmente com as atividades pausadas por conta da morte do guitarrista e um dos fundadores Felipe Pessanha. Foi um momento mega emocional porque alguns dos membros da Radioativa vieram prestigiar o evento. Em outro momento diferente, Cris Gadelha convidou Haroldo Sampaio, que faz os vocais da Weilands, banda cover do Stone Temple Pilots, que cantou a faixa Escarlate. Solos de guitarras gêmeas entre Fernanda Schenker e Alê Veloso, mais a dinâmica entre Cris e o baterista Pedro Henrique, mostra o quanto a banda está na ponta dos cascos e pronta pra alçar vôos mais altos.
A banda Lowd foi a segunda a subir no palco. Começaram na pressão abordando o álbum com as músicas ressoando na flor da pele. Não só o Raphael, mas todos estavam vestidos a caráter, bem praieros com bermudas de surfista e camisas que não remetiam a banda de metal. O que trouxe um pouco de descontração em meio a músics que abordam temas pesados. Mesmo escutando Anxiety, uma das melhores do repertório, podíamos estar sem tensão, imaginando que só faltava uma areia, alguns côcos e um baldinho ao lado para começar um “luau metal eletrificado”.
Como um bom power trio deve fazer, equalizaram de forma eficiente os instrumentos, intensificando o peso e distorção que dificilmente são capitados na extrema precisão pelo registro em estúdio.
O baixista Bruno Cabral traz uma energia muito boa, sempre aparentando ser um cara realizado ao estar no palco cantando e trazendo o público com sigo. Bem como seu irmão, Victor Cabral, menos performático, mas bruto na mesma proporção, mostrando serem os pilares, um verdadeiro suporte para toda carga que Raphael tem que trazer ao cantar as músicas que saíram de sua dor e luta contra a depressão. Raphael após o fim da última música do repertório entoou o nome do evento, o que deu um estímulo animal para todos os presentes.
A troca de palco foi bem rápida, com menos de trinta minutos, dando tempo para o público, e a possibilidade de assimilar o que vivenciaram. Agora ataca a Valvera, uma banda de São Paulo que traz o trash na essência pela primeira vez ao RJ, com bastante peso e grave. O que prontificou a vida da banda com certa identificação para o público foi o fato do batera Leandro Peixoto carioca, então foi só seguir a cartilha de reforçar esse fato de forma que entretesse o público. O guitarrista e vocalista Glauber Barreto traz uma boa capacidade vocal com o drive no ponto certo para as músicas, todas compostas em inglês. Até certo ponto, sua performance lembra a do Lemmy Kilmister do Motorhead. Os parças de São Paulo trouxeram fãs, o que fez com que a casa antes de uma da manhã não esvaziasse.
Forkil assumiu o posto de “headline” do evento e o fez de forma primorosa. Mesmo vendo a casa diminuir pouco a pouco o público, devido ao horário que já se aproximava dase 1 hora da manhã, fizeram algumas improvisações que deram uma temperada no repertório arrumadinho que deixaram quem permaneceu sem vontade de ir embora. A fala “vamos pra melhor parte do show… que não tem vocal” e tocar um som chamado The joker em homenagem ao fã “Frederico” fez o humor também reinar para esses camaradas.
Galera resistiu até as duas da manhã. se tem uma banda tocando que consegue manter mais de dez cabeças ouvindo seu som, numa noite de sábado, que dificilmente propencia a escutar Rock/metal (ainda mais o trash) até as 2 da matina, ela pode se considerar vencedora.
A conclusão referente ao evento é que foi um line-up bem montado, contemplando o metal, e tacando realmente “fogo na zona Sul”. A “Casa da Vizinha” é muito confortável e familiar, o que facilita a vinda das pessoas, ainda mais pelo motivo de ser fácil o acesso e ser relativamente perto do metrô; apesar de não ter uma indicação muito clara de como ela é, ser um muro azul para quem não a conhece não é lá a melhor referência. Os rangos de lá são maravilhosos, e com relação a bebida, apesar das cervejas serem um pouco mais caras do que deveriam ser, os drinks tem sua qualidade.
Quanto aos shows, dá pra dizer que a apresentação do Gadelha foi a mais importante devido aos fatores emocionais que a formaram e estar mais celebrativa que as demais. Mas todos os shows trouxeram elementos e histórias próprias, que os tornaram únicos e marcantes, a sua maneira.
Parabéns a R33sistência produções e ao seu FOGO NA ZONS SUL, por reforçar ainda mais o underground carioca que precisa não só de espaços que aceitem o autora, mas que também estejam abertos a propostas inusitadas como a do refil de mate, biscoito O Globo, frango assado e batata portuguesa, mesmo a casa vendendo outros tipos de alimentos e o seu próprio mate. Sair um pouco da mesmice que encontramos em shows normais é sempre um ponto a se destacar.