Por Felipe Tusco Dantas
Um disco considerado não apenas premiado para a música, mas também para o destaque da figura feminina nesta esfera. Tapestry, da cantora norte-americana, nascida em Nova York, Carole King, marca 53 anos de lançamento, e além disso uma infinidade de momentos marcantes na vida de pessoas da época, tudo isso graças a um repertório amorosamente envolvente e composto através de vivências profundas por parte da artista.
Produzido por Lou Adler, Tapestry marcou por 15 semanas consecutivas a primeira posição nas paradas musicais, além de ter sido recompensado com o Grammy Awards em 1972 por Álbum do Ano, Gravação do Ano, pela canção It’s Too Late, Canção do Ano, por You’ve Got A Friend, e Melhor Performance Solo Feminina.
Lançado pela ODE Records, Carole King afirma que dentre vários feitos de sua carreira este disco definitivamente mudou sua relação com a vida, fazendo a artista tornar-se financeiramente independente, além de muito mais reconhecida, ainda mais em uma época onde a ideia de uma figura artística feminina e solo era duvidosa.
Além de uma capa considerada simples, mostrando a cantora sentada perto de uma janela de uma casa ou apartamento, e ainda com seu gato Telemachus evidenciado em frente, este trabalho traduz brilhantemente os sentimentos de uma mulher romanticamente aventureira e frustrada em relação a outros aspectos pessoais.
O disco foi coproduzido com seu marido da época Gerry Goffin, que, antes de dedicarem esforços para esta obra, lançaram canções para outros artistas, como Up On The Roof, interpretado pelo grupo masculino The Drifters, e a belíssima (You Make Me Feel) Like a Natural Woman, interpretada pela eterna artista de jazz Aretha Franklin.
Porém, a maior inspiração para King foi o sucesso de Sweet Baby James, disco lançado por James Taylor em 1970, que acelerou sua motivação e criatividade para a composição.
E, enfim, sobre o repertório do álbum, temos a primeira faixa, I Feel The Earth Move, inspirada no trabalho literário do autor norte-americano Ernest Hemingway, seguida de So Far Away, uma canção sustentada por um piano de notas solitárias e tocada em conjunto com o próprio James Taylor.
It’s Too Late, certamente uma das mais conhecidas do disco, traz uma atmosfera pop com um som comercial e que explana os sentimentos de uma pessoa frustrada por um relacionamento mal aproveitado e que devido ao tempo não tem chances de ser recuperado.
As três próximas faixas, Home Again, Beautiful, e Way Over Yonder, fazem o ouvinte enxergar a alma daquela artista que, apesar de solitária, segue otimista com sua vida e com aquilo que está por vir.
Chegando ao auge da obra, temos a eterna You’ve Got a Friend, que é uma resposta a canção de James Taylor, Fire And Rain, onde Carole King garante a companhia e a parceria que estará sempre presente até mesmo nos piores dias de outra pessoa, e para melhorar a experiência sonográfica, King dá um toque pessoal ao sucesso do grupo feminino The Shirelles, Will You Love Me Tomorrow?, lançado em 1960, de forma mais lenta e profunda.
Smackwater Jack e Tapestry, que começam a despedir-nos do álbum, trazem um ritmo mais sacolejante e melancólico respectivamente, acentuados por instrumentos percussivos, com teclados característicos dos anos 70 e um piano base sustentado pela voz da cantora que soa mais angelical do que nunca aqui.
E, por fim, (You Make Me Feel) Like a Natural Woman encerra o disco trazendo mais uma vez a cantora nos vocais e teclados, e Charles Larkey no baixo, o que nos deixa surpresos com a versatilidade da artista nesta faceta de sua personalidade até então desconhecida.
Em 1999, a gravadora ODE Records lançou uma versão remasterizada de Tapestry, adicionando duas faixas bônus. São estas, Out In The Cold, escrita e composta por Carole King, canção que ficou de fora do lançamento original em 1971, e uma versão ao vivo de Smackwater Jack, gravada em Boston em 1973. Esta versão pode ser conferida nas plataformas de streaming, como Spotify.
Se Back to Black, de Amy Winehouse, lançado em 2006, ou 21, de Adele, lançado em 2011, ou até mesmo o já considerado antológico Jagged Little Pill, de Alanis Morrissette, lançado em 1995, devem a algum disco por inspiração artística, no sentido de expressar sua posição sentimental, este disco é definitivamente aquele revisado no texto de hoje. Junto de Blue, de Joni Mitchell, lançado também em 1971, Tapestry é uma joia musical bela e delicada, e tão fortemente contemporânea que a tendência de seguir influenciando futuros trabalhos, especialmente por parte de artistas femininas independentes, é certa.